Mulheres com HIV podem ter maior incidência de comorbidades do que os homens

Tradução

• Tema: Estudos destacam a necessidade de melhor prevenção e gerenciamento de problemas de saúde relacionados à idade

• Autor: POZ Magazine | Traduzido e adaptado por Camila de Almeida Lara

• Data: 13 set. 2023

• Texto original disponível: AQUI 

As mulheres que vivem com hiv têm maior probabilidade de ter outras condições relacionadas à idade que podem afetar sua saúde geral e qualidade de vida, de acordo com os resultados de um estudo publicado no JAMA Network Open. Além disso, outro estudo constatou que o fator de proteção do sexo feminino contra doenças cardíacas foi reduzido em mulheres que vivem com hiv.

 

Mais da metade das pessoas que vivem com hiv nos Estados Unidos tem 50 anos ou mais. Diversos estudos demonstraram que as pessoas com hiv têm maior probabilidade de desenvolver várias comorbidades – e de desenvolvê-las em idades mais jovens – em comparação com seus pares hiv-negativos. Mas falta orientação clínica para a triagem e prevenção de comorbidades, de acordo com os autores do estudo.

 

Lauren Collins, MD, da Faculdade de Medicina da Universidade de Emory, em Atlanta, e seus colegas avaliaram se o impacto das comorbidades relacionadas à idade difere entre mulheres e homens que vivem com o hiv ou estão em risco de contraí-lo nos Estados Unidos.

 

Essa análise transversal incluiu dados de 5.926 adultos do Multicenter AIDS Cohort Study (MACS) e do Women’s Interagency HIV Study (WIHS)  durante a época do tratamento antirretroviral moderno. Esses estudos de acompanhamento foram projetados para avaliar a história natural do hiv entre homens gays e bissexuais e mulheres cisgênero, respectivamente. Os participantes foram acompanhados de 2008 (para os homens) ou 2009 (para as mulheres) até março de 2019 […].

 

A análise incluiu 2.316 mulheres que vivem com hiv, 922 mulheres hiv negativas, 1.452 homens que vivem com hiv e 1.239 homens HIV negativos. Analisando os participantes que vivem com hiv, a idade média foi de 51 anos para as mulheres e 56 anos para os homens. Dois terços das mulheres que viviam com hiv eram negras, 21% eram latinas e 12% eram brancas. Para os homens com hiv, as porcentagens correspondentes foram 30%, 16% e 52%.

 

A maioria dos participantes estava em terapia antirretroviral, e 81% das mulheres e 86% dos homens tinham supressão viral. Cerca de 40% das mulheres e metade dos homens estavam em tratamento há 15 anos ou mais, embora 11% tivessem começado o tratamento nos últimos cinco anos. Eles estavam tomando uma variedade de regimes – cerca de um terço em inibidores de integrase, inibidores de protease e NNRTIs – sem diferenças notáveis entre mulheres e homens.  A média da contagem do CD4 era alta, acima de 600, mas cerca de 30% já tinham tido uma contagem abaixo de 200, o limite para o diagnóstico de aids. As mulheres com hiv tinham maior probabilidade de relatar tabagismo atual (34% versus 25%) e uso atual ou anterior de drogas injetáveis (19% versus 16%).

 

Os participantes foram submetidos a visitas semestrais que envolviam exames físicos, coleta de amostras de sangue e questionários sobre dados demográficos, histórico médico, comportamentos e uso de medicamentos relatados. Os pesquisadores avaliaram 10 comorbidades não relacionadas à aids relacionadas à idade: hipertensão (pressão alta), dislipidemia (níveis anormais de gordura no sangue), diabetes, doença cardiovascular, doença renal, doença hepática, doença pulmonar, doença óssea, doença psiquiátrica e cânceres não relacionados à aids.

 

De modo geral, a carga de comorbidades foi maior entre as mulheres do que entre os homens, com uma média de 3,4 contra 3,2 condições. As mulheres eram mais propensas do que os homens a ter problemas ósseos (42% versus 19%), doença pulmonar (38% versus 10%) ou diabetes (24% versus 17%), mas menos propensas a ter hipertensão (68% versus 75%), doença psiquiátrica (55% versus 58%), dislipidemia (41% versus 64%), problemas hepáticos (34% versus 38%), doença renal (14% versus 15%) ou câncer (7% versus 12%). Ambos os grupos tinham a mesma probabilidade de ter doença cardiovascular (15% cada).

 

A diferença média estimada na carga de comorbidade entre pessoas com hiv foi significativamente maior para mulheres do que para homens em todas as faixas etárias. Entretanto, entre as pessoas hiv-negativas, a diferença entre os sexos variou de acordo com a idade. […]

 

“Neste estudo transversal, a carga geral de comorbidades relacionadas ao envelhecimento foi maior em mulheres do que em homens, particularmente entre pessoas com hiv, e a distribuição da prevalência de comorbidade diferiu por sexo”, concluíram os autores do estudo. “Podem ser necessárias estratégias de triagem e prevenção de comorbidades adaptadas ao status sorológico do hiv e ao sexo ou gênero.”

 

Outro estudo, publicado na AIDS, analisou a incidência de doença cardiovascular aterosclerótica (DCV) entre mulheres e homens com e sem hiv. Na população em geral, os homens têm maior risco de doenças cardiovasculares, segundo os pesquisadores. As pessoas soropositivas têm aproximadamente o dobro do risco de doença cardiovascular aterosclerótica (DCV) em comparação com seus pares soronegativos.

Os pesquisadores analisaram novos eventos de DCV, incluindo infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença arterial periférica de extremidades inferiores.

Em um período médio de acompanhamento de cerca de dois anos, as mulheres com hiv tinham menor probabilidade de sofrer eventos de DCV em comparação com os homens vivendo com hiv (2,87 versus 3,61 por 1.000 pessoas-ano, respectivamente). Mas a vantagem para as mulheres em comparação com os homens foi substancialmente maior no grupo hiv negativo (1,24 versus 2,57 eventos por 1.000 pessoas-ano). Após o ajuste para outros fatores, as mulheres vivendo com HIV tinham cerca de 30% menos probabilidade de ter eventos de DCV do que os homens vivendo com HIV, enquanto as mulheres não vivendo com hiv tinham cerca de metade da probabilidade do que os homens não vivendo com hiv.

 

“A vantagem protetora do sexo feminino contra a doença cardiovascular aterosclerótica  observada na população em geral é reduzida entre as mulheres com hiv”, concluíram os pesquisadores. “São necessárias estratégias de tratamento mais precoces e mais intensivas para reduzir as disparidades baseadas no sexo.”

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