Houve um momento, no começo da década de dez, que todos nós passamos a ouvir VCR. A musiquinha – que dizia, saudosa, “que eu vejo coisas no VCR (no videocassete)” – era de uma banda nova chamada XX. A gente notava, para além da música eletrônica minimalista, um saborzinho de coisa queer.
Os dois integrantes e a integrante da banda, depois de alguns álbuns, trilharam uma carreira solo interessante. Um deles, porém, nos interessa aqui diretamente: Oliver Sim.
O cara, no final de 2022, lançou um álbum e um curta-metragem, chamado Hideous Bastard. O tema é claro: o que significa viver com uma infecção que estigmatiza?
Entre as músicas, ecoa um tom confessional e a contestação do estigma. Em Fruit, ele canta: Take a bite, babe/ Take a bite, babe? It’s an ordinary Thing – algo como “Morda um pedaço, é só uma coisa comum”. A fruta proibida parece, no disco e no curta, se materializar numa reversão futurista do que é ser uma PVHIV e seus questões.
Oliver deu entrevistas e saiu do armário: vivia com hiv desde os dezessete anos e aprendeu a viver com o hiv. Numa entrevista ao The Guardian, ele afirmou: !”[…] eu fiz um album sobre a vergonha e o medo que me cercavam. – mas eu ainda tenho medo, ainda tenho vergonha, não sou um produto terminado”.
É esse produto em construção que a gente recomenda fortemente!
O álbum pode ser ouvido no Spotify.
O documentário está disponível na plataforma MUBI.
Por Atilio Butturi Junior
professor da UFSC – do Programa de Pós-Graduação em Linguística e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC – e coordenador do projeto “É só mais uma crônica”. Pesquisa o “dispositivo crônico da aids” (termo que cunhou) desde 2015. Está interessado em produzir saber e política sobre hiv e em pensar uma análise neomaterialista dos discursos.