Boas novas de redução de novas infecções por hiv no Brasil e o futuro da prevenção

No mês passado (março 2024) as Nações Unidas no Brasil e UNAIDS fizeram um anúncio promissor: o Brasil junto com outros onze países da Coalização Global da Prevenção ao HIV, alcançou uma redução de cerca de 66% em suas taxas anuais de novas infecções por hiv, uma comparação que toma por base o cenário de 2010 como mostra o relatório Prevenção do HIV: da Crise à Oportunidade, lançado pela UNAIDS em 2024 (CLIQUE AQUI E CONHEÇA).  Os números demonstram a eficiência da gestão da epidemia pelo Brasil e demais países, dado que, se a média global de novas infecções também reduziu, ela reduziu em um passo muito menor: a redução mundial ficou em torno de 38%.

Mas o que é Coalizão Global da Prevenção ao HIV? Bem, ela foi  lançada em 2017 e, como já vimos, é integrada pelo Brasil. A Coalizão Global, como o nome indica, é a soma de esforços para uma resposta abrangente à epidemia, equalizando ações voltadas ao tratamento de pessoas que vivem com hiv e a prevenção de infecções por pessoas que não vivem com hiv, especialmente nessa aquelas estatisticamente mais vulneráveis. Ela é  presidida pelos Diretores Executivos do UNAIDS e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), e reúne os Estados-membros da ONU, sociedade civil, organizações internacionais, entre outros parceiros. Atualmente, a Coalização global conta com 38 países, cujos trabalhos conjuntos orientam-se à diminuição de novas infecções por hiv e a garantia de acesso à tratamento a quem já vive com o vírus.

Já falamos e repetimos muitas vezes aqui no ESMUC que há epidemias na epidemia, as estórias de enredamento entre humano e hiv são múltiplas, divergentes e locais. Contudo, isso não exclui o fato de que a reflexão e os esforços em nível macro (uma coalização global, por exemplo) são contundentes na gestão, prevenção e acesso a novos tratamentos e superação das desigualdades. 

Entre os planos iniciais da Coalização, como o Roteiro de Prevenção do HIV até 2020, estava a redução de novas infecções por HIV em 75% até 2020, uma busca por dirigir a atenção não apenas para o acesso ao tratamento nas infecções, mas por também revitalizar políticas de prevenção a novos casos. A meta não foi atingida, o que não quer dizer que os resultados até aqui não sejam positivos e as ações propostas pela Coalização não sejam um modo de pressionar gestores locais a endereçar adequadamente a epidemia, com financiamento apropriado e respeito aos direitos humanos, além de um horizonte colaborativo acerca de nossa agência como sociedade diante do hiv.

Neste momento, por exemplo, as metas da Coalização, lançadas em 2022, são: a redução das infecções globais de hiv a menos de 370 mil por ano e a garantia de que 95% das pessoas mais vulneráveis à infecção por HIV possam acessar opções efetivas de proteção combinada. Essas metas estão alinhavadas às metas de 2030 de extinção da Aids como um problema de saúde pública.

Os pilares da prevenção para as metas de 2025 são os seguintes:

  • Prevenção combinada e redução de danos em populações-chave (trabalhadoras/es/us sexuais, homens gays e HSH, usuárias/os/es de drogas injetáveis, pessoas trans*, pessoas em privação de liberdade);
  • Prevenção combinada voltadas à adolescentes femininas e mulheres jovens (dado que têm tido menos acesso à testagem, diagnóstico e retenção no tratamento);
  • Prevenção combinada voltada a adolescentes masculinos e homens (com promoção de acesso à testagem);
  • Programas de distribuição de camisinhas internas e externas e de lubrificantes
  • Prevenção baseada em Antirretrovirais (ARV), como PREP, PEP, Tratamento como Prevenção (Indetectável = Intransmissível) e eliminação da transmissão vertical.

O acesso a tais pilares de prevenção, é importante notar, deve se dar através de iniciativas comunitárias locais, além de pontos de promoção de saúde diversos, como serviços de saúde e de saúde reprodutiva, escolas, setor privado e plataformas virtuais. É importantíssimo notar que as iniciativas de prevenção e o acesso a elas sustentam-se em um base social que endereça suas desigualdades e vulnerabilidades, tais como direitos sexuais e reprodutivos, igualdade de gênero, combate ao estigma e discrimição e abordagem multifatorial e integrada e investimento efetivo em prevenção ao HIV.

Este é um texto sobre boas novas e sobre metas globais, mas é sobretudo um texto sobre como a prevenção ao HIV necessariamente passa uma relação entre grandes escalas (metas globais) e escalas menores, como as dinâmicas locais e comunitárias de atenção e cuidado, o combate às desigualdades e a atenção às pessoas estatisticamente mais vulneráveis diante do vírus e mais precarizadas socialmente. Vamos debater essas metas? Vamos fabular estratégias?

Por Nathalia Müller Camozzato

professora, doutora em Linguística e graduada em Letras – Português pela UFSC. Atualmente, realizada Pós-doutoramento com bolsa FAPESC, no  Programa de Pós-Graduação em Linguística da ufsc. Tem buscado alinhavar a pesquisa à práticas por vidas mais vivíveis e justas para todas pessoas., especialmente aquelas vulnerabilizadas por questões como raça, gênero, sexualidade e variabilidade funcional. Entre seus interesses estão o discurso e o emaranhado entre o humano e o não/outro que humano, o pensamento localizado e as estórias como estratégia fabulativa orientada para o futuro.

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