HIV, segurança alimentar: quando a nutrição também é remédio

Uma pesquisa publicada no Journal Infectious Diseases e divulgada no portal POZ (link AQUI, em inglês), que partia de um programa de segurança alimentar para população que vive com hiv no contexto estadunidense, mostrou como refeições e mantimentos medicamente adaptados, combinados com educação nutricional, reduziram as hospitalizações, melhoraram a saúde mental e a adesão à medicação e diminuíram o sexo desprotegido entre pessoas com HIV com alto risco de insegurança alimentar. A pesquisa, de certo modo, atua em duas frentes: a primeira, o já sabido impacto alimentar na constituição de saúde em geral e nas práticas de saúde para PHIV, a segunda, o impacto do empobrecimento e falta de acesso à saúde – traduzida aqui em falta de acesso à alimentação de qualidade – no tratamento e nas práticas de cuidado de PHIV.  

No Brasil, carecem iniciativas que de fato pensem o problema do empobrecimento, da insegurança alimentar em suas relações com a saúde da vida com hiv, não obstante estudos como o de Lorena Costa e outros (link AQUI), realizado com 205 pacientes do Sistema Único de Saúde no Ceará entre 2016 e 2017 mostrem que 47,3% dos entrevistados estava em situação de insegurança alimentar, 10,7% em nível grave.

Abordagens como “Alimentação é remédio”, feita nos Estados Unidos, indicam como a prevenção à fome e a promoção de saúde na vida com hiv são metas gêmeas. O acesso à alimentação, inclusive, não é necessariamente o acesso a alimentos de qualidade, já que muitas vezes os itens de menor custo são mais ultraprocessados, ricos em sal, açúcar e gordura.

Camila Jonas, nutricionista que vive com hiv, especialista em nutrição para phiv e idealizador do projeto @posithiva_mente, no instagram, oferece algumas orientações nesse sentido. No artigo Nutrição e hiv, publicado pela Agência aids (link AQUI). Ela diz:

“Entre as pessoas que vivem com HIV a nutrição atua na qualidade de vida, prevenindo outras doenças como o diabetes, a pressão alta, doenças cardiovasculares, entre outras. Além disso, auxilia na melhora de efeitos colaterais ou prevenindo-os, tais como dislipidemias, glicemia alta, anemia, etc. Sabemos também que um indivíduo com ingestão e absorção de nutrientes adequada tem uma melhora no sistema imune. Um intestino com uma microbiota saudável está relacionado com um sistema imune e saúde mental equilibrados.”

Um dos pontos destacados por Camila dizem respeito ao papel da microbiota intestinal no fortalecimento do sistema imune e a redução de alimentos industrializados para melhor dessa microbiota. A nutricionista também dá dicas sobre como a alimentação pode auxiliar nos possíveis efeitos colaterais do início do tratamento:

  • Triglicerídeos ou glicose elevados: diminuir o consumo de alimentos ricos em carboidratos simples e açúcar, como doces, pães e massas e substituí-los por alimentos integrais.
  • Comprometimento renal ou hepático: controle do consumo de proteínas. Nesse caso é interessante consultar um nutricionista para a elaboração de um plano alimentar específico.
  • Alterações no metabolismo ósseo: prática de exercícios físicos; ingestão adequada de cálcio e vitamina D e exposição ao sol.
  • Anemia: aumentar o consumo de carnes, principalmente a vermelha; vísceras, como fígado, rim e coração; ovos. E para os vegetarianos vegetais verdes escuros, leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico…) de preferência consumir junto de alimentos fonte de vitamina C (laranja, acerola, goiaba, kiwi, entre outras.
  • Náuseas e vômitos: fazer pequenas refeições, várias vezes ao dia; consumir alimentos mais secos como biscoitos água e sal; preferir alimentos frios ou em temperatura ambiente; fazer as refeições em ambiente arejado; evitar ingerir líquidos durante as refeições; não deitar após as refeições; chupar gelo.
  • Diarreia: Alguns alimentos podem provocar diarreia em pessoas mais sensíveis como o leite, doces em grandes quantidades, feijão, comidas gordurosas como frituras ou gorduras de origem animal; evitar alimentos crus e fibras; fazer refeições pequenas; fazer uso do soro caseiro, soro de reidratação oral, isotônicos ou água de coco.

Por Nathalia Müller Camozzato

professora, doutora em Linguística e graduada em Letras – Português pela UFSC. Atualmente, realizada Pós-doutoramento com bolsa FAPESC, no  Programa de Pós-Graduação em Linguística da ufsc. Tem buscado alinhavar a pesquisa à práticas por vidas mais vivíveis e justas para todas pessoas., especialmente aquelas vulnerabilizadas por questões como raça, gênero, sexualidade e variabilidade funcional. Entre seus interesses estão o discurso e o emaranhado entre o humano e o não/outro que humano, o pensamento localizado e as estórias como estratégia fabulativa orientada para o futuro.

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