Visibilidade lésbica: brasileira Beatriz Grinsztejn é a nova presidente da International Aids Society

Recentemente o mundo voltou seus olhos para a 25º Conferência Internacional da AIDS, que ocorreu entre 22 e 26 de julho, em Munique, encabeçada pela International Aids Society (link AQUI). A programação intensa voltava-se sobretudo a uma aliança profícua e política entre ciência e práticas baseadas em evidências, uma busca de respostas significativas para a epidemia em nível global que tem como pedra de toque priorizar as pessoas nos enlaces entre ciência, políticas e ativismo.

Foi também nessa conferência que foram nomeadas as novas presidências da associação: a brasileira Beatriz Gilda Jegerhorn Grinsztejn e o queniano Kenneth K. Ngure. Beatriz é uma mulher lésbica, médica infectologista formada pela Universidade Federal Fluminese, professora e pesquisadora que esteve, desde o início da epidemia, em uma atuação importante e estratégica. Como nos conta o artigo Beatriz Grinsztejn: leading Brazil’s response to HIV (Beatriz Grinsztejn: liderando a resposta brasileira ao HIV), publicado na Lancet por Tony Kirby (link AQUI), já em 1988, a médica foi cofundadora de um serviço de HIV na Fiocruz, momento que coincidiu com a criação nacional do SUS. De lá pra cá o serviço tornou-se o Laboratório de Pesquisa Clínica em Ist e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Carlos Chagas/Fiocruz e é liderado por Grinsztejn desde 1999.

Gostaríamos de destacar, especialmente neste mês de agosto, a importância das práticas, pesquisas e políticas de uma lésbica visível, comprometida com os direitos humanos, com a variabilidade sexual e de gênero, com a oferta de serviços para mulheres trans e cuidado às populações mais vulneráveis que são pouco e mal atendidas pelos serviços de saúde. Como disse Beatriz a Tony Kirby:

“Combater o HIV/AIDS significa confrontar a LGBTQIAPN+fobia, a insegurança alimentar, o racismo e outras desigualdades estruturais que perpetuam a discriminação“.

É importante marcar ainda que Beatriz foi uma figura-chave em várias iniciativas marcantes, como a adoção do Treat All em 2013 e a implementação da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) em 2018. Sua defesa e contribuições importantes para estudos influentes sobre tratamento como prevenção e PrEP ajudaram a mudar paradigmas relacionados à compreensão global da transmissão, prevenção, tratamento e coinfecções do HIV, como tuberculose e mpox. 

Na cerimônia de encerramento do congresso, a nova presidente da IAS endereçou o tema que norteou todo evento “Colocar as pessoas em primeiro lugar” e sublinhou como é signitivativa sua posicionalidade como uma lésbica do sul global. Ela diz: 

 

​"Meu objetivo é levar adiante a missão da IAS de mobilizar esforços científicos, fomentar a unidade global e promover a dignidade humana para todos os indivíduos afetados pelo HIV. Minha perspectiva como mulher lésbica do Sul Global contribui de forma única para o combate ao estigma e à discriminação, garantindo que a resposta global ao HIV priorize as evidências científicas e o bem-estar das pessoas, o que acaba impulsionando uma abordagem mais inclusiva e equitativa para combater a epidemia de HIV/AIDS."

Por Nathalia Müller Camozzato

professora, doutora em Linguística e graduada em Letras – Português pela UFSC. Atualmente, realizada Pós-doutoramento com bolsa FAPESC, no  Programa de Pós-Graduação em Linguística da ufsc. Tem buscado alinhavar a pesquisa à práticas por vidas mais vivíveis e justas para todas pessoas., especialmente aquelas vulnerabilizadas por questões como raça, gênero, sexualidade e variabilidade funcional. Entre seus interesses estão o discurso e o emaranhado entre o humano e o não/outro que humano, o pensamento localizado e as estórias como estratégia fabulativa orientada para o futuro.

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