E a monkeypox?

Todos estamos ouvindo e lendo notícias sobre o avanço da MonkeyPox. Se o surto de 2022, no Brasil e no mundo, colocou-nos em alerta diante do vírus e também do estigma (LEIA O TEXTO QUE PUBLIQUEI AQUI ), a nova variante traz novos problemas: é mais agressiva e já foi decretada como Emergência Pública pela OMS.

Certamente, não se trata de entrar em pânico. Os dados são preocupantes, entretanto, já quem só em São Paulo já foram registrados 366 casos desde janeiro até 12 de setembro de 2024. São preocupantes, ainda, por um certo silêncio que ronda o Ministério da Saúde e o apagão de vacinas.

Vejamos: o Ministério da Saúde instalou uma Centro de Operações de  Emergência, mas, no cotidiano das pessoas, não temos visto muitas ações. Quanto à vacinação, a própria ministra Nísia Trindade afirmou: “No Brasil, nós vacinamos com uma licença ainda especial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em casos muito excepcionais, para grupos muito vulneráveis, pessoas que tinham tido contato com outras pessoas doentes. Então, a vacinação nunca será uma estratégia em massa para a Mpox”.

Os grupos vulneráveis, porém, utilizados tantas vezes como forma de controle e exceção, não têm conseguido a atenção devida. Em Florianópolis, por exemplo, não temos vacinas desde ano passado, pelo menos – e digo isso porque eu mesmo já tentei me vacinar ao menos três vezes. Em contrapartida, países como a Inglaterra já compraram mais de 150mil vacinas. 

Nesse cenário e como de costume, as pessoas que trabalham com a resposta ao hiv tomam a frente. A UNAIDS, já em agosto, lançou uma cartilha com informações e com noções de cuidado básicas. O texto é claro em relação às vulnerabilidades, que não se resumem à imunodepressão, e à necessidade de ações imediatas:

Algumas comunidades que estão em risco e/ou são vulneráveis ao HIV podem estar em maior risco de infecção ou vulneráveis a desfechos graves se expostas ao Mpox. Essas comunidades podem incluir crianças , adolescentes, mulheres, pessoas que vivem com HIV e populações-chave, incluindo profissionais do sexo, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e as redes sexuais desses grupos, pessoas privadas de liberdade e outros ambientes fechados, pessoas refugiadas e populações deslocadas internamente. O Mpox tem sido uma preocupação para as pessoas que vivem com HIV, particularmente quando não estão com a carga viral suprimida. Isso pode ser devido a: status de HIV não diagnosticado; não estar em tratamento antirretroviral; ter doença avançada pelo HIV; e/ou experimentar interrupção do tratamento por uma variedade de razões. Evidências mostram que a imunossupressão no contexto de infecção avançada pelo HIV está associada a um risco aumentado de sintomas graves de Mpox e doença”.

Novamente, estamos diante da necessidade de exigir das autoridades o mínimo constitucional. Além disso, outra vez cabe a nós atentar para formas de viver bem e viver melhor. Sem pânico, mas com olhos e ouvidos atentos para exigir nossos direitos.

Por fim: confere AQUI o documento da UNAIDS, NOTA DE INFORMAÇÃO/ORIENTAÇÃO DO UNAIDS SOBRE A RESPOSTA AO MPOX 28 DE AGOSTO DE 2024.

Por Atilio Butturi Junior

professor da UFSC – do Programa de Pós-Graduação em Linguística e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC –  e coordenador do projeto “É só mais uma crônica”. Pesquisa o  “dispositivo crônico da aids” (termo que cunhou) desde 2015. Está interessado em produzir saber e política sobre hiv e em pensar uma análise neomaterialista dos discursos.

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