HIV, identidade queer e a política de assistência médica

Tradução

• Tema: A SAÚDE DAS PESSOAS QUEER EM RISCO NOS EUA (E POR AQUI…)

• Autoria: Charles Sanchez, PARA A POZ MAGAZINE [TRADUZIDO POR ATILIO BUTTURI JUNIOR]

• Data: 2 jun. 2025

• Texto original disponível: AQUI 

Visão Geral

Ainda no mês do orgulho, resolvemos traduzir um texto que acabou de ser publicado na POZ, cujo tema é a perda de direitos das comunidades LGBTQ e os efeitos que isso causa e causará em termos de vulnerabilização das pessoas queer.

No Brasil, assistimos há muito pouco tempo ao que o texto chama  de “demonização”, um projeto ainda em curso. É sempre hora de repensar, pois, nossas alianças e nossas lutas.

Desde o início da crise da AIDS, o HIV tem afetado, desproporcionalmente, as pessoas LGBTQ. Embora a ciência e as estatísticas tenham provado que nenhum grupo de pessoas está imune a contrair o HIV, ele ainda é considerado, em muitos círculos, como uma “doença gay”.

Há muito caos e confusão no governo dos Estados Unidos atualmente, e a comunidade queer está mais uma vez sendo transformada e demonizada. Marcar a comunidade queer como maligna torna muito mais fácil descartar nossos direitos evidentes à vida, à liberdade e à busca da felicidade.

Além disso, os cortes propostos para o Medicaid [o sistema de saúde norte-americano, como você pode LER AQUI] deixarão milhões de americanos sem seguro de saúde. De acordo com um estudo recente do Williams Institute da School of Law da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, os adultos LGBTQ têm quase o dobro da probabilidade de estar no Medicaid devido às taxas desproporcionalmente mais altas de deficiência e pobreza entre as pessoas queer. Esses cortes propostos prejudicarão nossa comunidade, tornando as pessoas LGBTQ mais vulneráveis a problemas de saúde e doenças evitáveis, entre elas o HIV. Isso exerce muita pressão sobre os prestadores de serviços de HIV para que tomem providências e cuidem de pessoas que o governo não quer.

 

A revista POZ conversou com David Munar, presidente e CEO da Equitas Health, um dos maiores provedores de serviços LGBTQ e de HIV dos EUA, e Mardrequs Harris, vice-diretor da Southern AIDS Coalition, para obter suas perspectivas e percepções.

“Precisamos estar cientes de que estamos no começo do começo”, diz Munar. Ele disse que, embora o atual governo esteja tentando “tornar a América grande novamente”, uma das despesas dessa ideologia é a comunidade LGBTQ. “O ponto de vista é retornar a sociedade a um conjunto diferente de normas que talvez nunca tenha existido, mas certamente está buscando modos pelos quais as pessoas LGBTQ não desfrutem do mesmo reconhecimento, direitos, aceitação e tenham acesso aos mesmos serviços que têm agora.”

Harris concorda. “Quando pensamos no orçamento que está sendo divulgado e na redução do Medicaid, ele trata do acesso das pessoas a medicamentos, a consultas médicas e a todos os serviços complementares que acompanham o tratamento e a prevenção do HIV”, diz ele.

Munar também ressalta que o governo está fazendo tudo o que pode para cancelar os serviços de prevenção e tratamento do HIV em todo o país. “As comunidades ficarão praticamente sem infraestrutura para a prevenção do HIV. E isso terá um impacto enorme.” Munar explica que as evidências mostram que os programas de prevenção reduziram as novas infecções por HIV e ajudaram as pessoas que vivem com HIV a conhecer seu status mais cedo e a se conectar aos cuidados, reduzindo assim a carga viral e a incidência de transmissão. “Não há objetivo de acabar [com a epidemia]. O objetivo é exatamente o oposto; é afastar as pessoas transgênero da vida americana, mas como parte de uma agenda maior e mais ampla que é afastar as pessoas LGBTQ da vida americana.”

 

“Eliminar o Medicaid, como pretende o governo Trump, não é consertar um problema”, diz Harris, “é criar um problema maior. Um dos grandes desafios quando se trata de prevenção e tratamento do HIV na comunidade LGBTQ é o alto nível de vergonha e estigma.” As pessoas precisam ser capazes de procurar seus provedores de serviços médicos como algo que funciona de modo integral, explica Harris.

 

“Agora temos leis que visam a identidade das pessoas. Há leis ou ordens executivas, políticas, etc., que têm como alvo a existência de determinados grupos de pessoas que [organizações de serviços e clínicas] trabalharam por tanto tempo para que pudessem entrar com orgulho e proclamar quem são e ter acesso a esses serviços e que os provedores fossem culturalmente apropriados, não estigmatizantes, criando ambientes acolhedores”, diz Harris. “E essas coisas estão retrocedendo, o que fará com que as pessoas regridam e voltem atrás por causa do medo do que pode acontecer. Quando falamos de pessoas LGBTQ e de pessoas racializadas que se identificam como LGBTQ, isso aumenta ainda mais o dano ou a percepção do dano que pode ocorrer, dependendo do estabelecimento em que você está entrando, de quem o está atendendo etc.”

Munar aida afirma: “É isso que precisamos entender: que talvez você não sinta o aperto agora porque não é uma pessoa trans, ou outro membro da comunidade LGBTQ, ou vive com HIV, mas não se engane, eles não vão parar por aí. Eles estão tentando remodelar a experiência real de receber assistência médica nos Estados Unidos. Qualquer pessoa, todo mundo deveria se preocupar com isso.”, “and that’s being pierced. If we are allowing the federal government, nonpublic health, nonmedical professionals into the experience of a patient in an exam room, this is the problem. That’s what we need to understand: that you may not feel the pinch right now because you’re not a trans person, or another member of the LGBTQ community, or living with HIV, but make no mistake, they’re not going to stop there. They’re trying to reshape the actual experience of receiving health care in the United States. Anybody, everybody should care about this.”

Harris acredita que a comunidade LGBTQ também está em risco quando se trata de acesso a cuidados. “Essas novas políticas afetam as pessoas LGBTQ de uma forma que, do ponto de vista da segurança, é realmente assustadora”, diz ele. “O pessoal dos centros de HIV e LGBTQ costumava poder montar [testes de HIV e mesas de informações] em farmácias comunitárias, clubes, festas, festivais, bares. E se estamos perpetuando esse estigma desagradável de que as pessoas LGBTQ são as únicas afetadas pelo HIV, o que isso faz com as pessoas que passam por ali e pensam que isso é apenas para pessoas que foram demonizadas? Isso coloca em risco até mesmo as pessoas que querem fazer exames, coloca em risco as pessoas que querem se instalar nesses locais onde sabem que nossas populações prioritárias estão em risco. Portanto, é acesso, é segurança, é apenas a humanização de tudo isso.”

“Pessoalmente, acredito que a epidemia de estigma, a epidemia de ódio e a maior crise na saúde pública é o desrespeito à humanidade”, diz Harris. “É uma conversa sobre humanidade. É uma conversa sobre dignidade e respeito. A prevalência do HIV e de outras doenças é uma coisa, mas o estigma e o desrespeito pela humanidade, pela comunidade LGBTQ e além, são as maiores crises de saúde pública que estamos enfrentando atualmente.”

 

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